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18 de jun. de 2024

A árvore dos sapatos

 Muito longe daqui, no sul da África, não muito tempo atrás, vivia uma tribo que não usava sapatos. Para que sapatos se a areia era macia, a grama também?

Mas às vezes as pessoas tinham que ir à cidade. Para resolver um assunto, um negócio de cartório, hospital, ou receber dinheiro ou até mesmo ir a uma festa. Aí eles precisavam de sapatos, e era um tal de pedir emprestado, que nunca dava certo.

Foi então que o velho mais velho da vila que, como tantas vezes acontece, era também o mais sábio, resolveu o problema. Ele abriu uma tenda de aluguel de sapatos.

Instalou-se à sombra de uma grande árvore e em seus galhos pendurou sandálias, chinelos, alpargatas, botas, botinas, sapatos de salto alto, fechado atrás, aberto atrás, sapato de casamento, para enterro, de todas as cores, tipos e tamanhos.

As pessoas alugavam o sapato que queriam, iam para a cidade resolver seus assuntos e, na volta, devolviam. E, claro, tinham que pagar aluguel.

Sabe qual era o aluguel?

No fim da tarde, depois que todo mundo já tinha terminado o serviço, tomado banho no rio, jantado, o povo da vila se reunia para ouvir a pessoa que tinha alugado o sapato contar, com todos os detalhes, por onde aquele sapato tinha andado.

*   *   *

Que histórias nossos sapatos contariam sobre nós e sobre os caminhos que temos trilhado?

Para onde nossas escolhas têm nos levado? O que temos feito de bom e de não tão bom?

Em um exercício de memória, de que fatos nos lembramos em que fizemos algo verdadeiramente bom, mesmo que ninguém tenha sabido?

Que atos de gentileza, de carinho, tolerância e compreensão realizamos, diante de irmãos necessitados?

Que caminhos temos seguido: os do amor e do preparo para a vida espiritual ou os do egoísmo e da maledicência?

Apontamos os defeitos do outro sem olhar para os nossos?

Criticamos tudo e todos, constantemente insatisfeitos com o que recebemos? Ou nos lembramos de agradecer pelo que temos e pelo esforço que outros fazem para que tenhamos o que precisamos?

Nossas escolhas têm sido feitas pautadas pelos ensinamentos do Mestre Jesus, que nos conclamou a amar e perdoar?

Ou temos sido orgulhosos e egoístas, nos colocando em primeiro lugar e deixando os outros para trás?

Se nossos sapatos pudessem dizer o que temos feito e que caminhos temos trilhado, ficaríamos tranquilos ou nos sentiríamos preocupados com o que descobririam sobre nós?

Deus tudo vê. Ele tudo sabe. Não precisa que ninguém conte a ele o que fazemos.

Que possamos parar um minuto para refletir sobre nossos atos nos últimos dias, meses, anos. Se estamos no caminho do bem ou se precisamos fazer uma urgente correção de rumo.

Que nossos pés, nossos atos, nossos pensamentos, sejam direcionados para a luz, a caridade, a benevolência.

E se for preciso doar nossos sapatos para aqueles que não os têm, que sigamos descalços, sob a proteção do amor e com a certeza de que fizemos uma boa escolha.

Redação do Momento Espírita, com
base  em conto de Mia Couto.

5 de mai. de 2024

O PATINHO FEIO

 







O patinho feio

Em uma granja uma pata teve quatro patinhos muito lindos. Porém, quando nasceu o último, a patinha exclamou espantada:

– Que pato tão grande e tão feio!

No dia seguinte, de manhãzinha, dona Pata levou a ninhada para perto do riacho.

Mas os patos maiores estavam achando aquele patinho marrom, muito feio. Não parece pato não! – Dizia uma galinha carijó. O galo então, estava muito admirado do tal patinho.

– Tomem cuidado com o gatão preto. Não se afastem muito de mim, dizia a Mãe Pata.

Chegaram à lagoa e logo dona pata e os pequenos entraram na água.

Mamãe estava orgulhosa. Mas o patinho feio era desajeitado, como ele só. Não conseguia nadar. Afundava a todo momento.

Teve que sair para fora da água. E foi só gozação dos demais. Dona pata ainda ensinou-os a procurar minhocas e a dividi-las com os irmãos.

Os irmãos tinham vergonha dele e gritavam-lhe:

– Vá embora porque é por tua causa que todos estão olhando para nós! Não sei porque o gatão preto, não leva você para sempre?

– O pobre patinho ficava sempre isolado dos demais. Os patos mais velhos, judiavam do pobrezinho dando-lhe bicadas.

Todos os seus irmãos eram amarelinhos e pequeninos, e ele era feio, marrom, grandão e desengonçado. De tão rejeitado por ser diferente, resolveu fugir.

Afastou-se tanto que deu por si na outra margem.

– De repente, ouviram-se uns tiros. O Patinho Feio observou como um bando de gansos se lançava em vôo. O cão dos caçadores perseguia-os furioso.

Conseguiu escapar do cão mas não tinha para onde ir. Porém, não deixava de caminhar.

Foi andando… foi andando… sem destino, com o coração cheio de dor e lágrimas nos olhos.

Chegou a um riacho onde estavam patos selvagens. Cumprimentou-os como aprendera com sua Mãe. Mas eles logo foram dizendo:

– Não queremos intrusos aqui. Vá andando e não se faça de engraçado, pato feio.

Pobre patinho, só queria um lugar no mundo para descansar, comer algumas minhocas e nada mais.

Finalmente, o inverno chegou. Os animais do bosque olhavam para ele cheios de pena.

– Onde irá o Patinho Feio com este frio? – Não parava de nevar. Escondeu-se debaixo de uns troncos e foi ali que uma velhinha com um cãozinho o encontrou.

– Pobrezinho! Tão feio e tão magrinho! E levou-o para casa.

Lá em casa, trataram muito bem dele. Todos, menos um gatinho cheio de ciúmes, que pensava: “Desde que este patucho está aqui, ninguém me liga”.

Com o tempo a velha cansou-se dele, porque não servia para nada: não punha ovos e além disso comia muito, porque estava a ficar muito grande.

O gato então aproveitou a ocasião.

-Vá embora! Não serves para nada!

E o patinho foi embora. Chegou a um lago em que passeavam quatro belos cisnes que olhavam para ele.

O Patinho Feio pensou que o iriam enxotar. Muito assustado, ia esconder a cabeça entre as asas quando, ao ver-se refletido na água, viu, nada mais nada menos, do que um belo cisne que não era outro senão ele próprio, tão grande e tão belo, como os que vinham ao seu encontro.

Os companheiros o acolheram e acariciavam-no com o bico. O seu coraçãozinho não cabia mais dentro do peito.

Nunca imaginara tanta felicidade.

Os cisnes começaram a voar e o Patinho Feio foi atrás deles.

Quando passou por cima da sua antiga granja, os patinhos, seus irmãos, olharam para eles e exclamaram:

– Que cisnes tão lindos!

Assim termina a nossa história. O patinho feio sofreu muito até que um belo dia cresceu e descobriu a verdade sobre si próprio: ele não era um pato feio e diferente dos outros, era na verdade um lindo cisne. Desde então, todos passaram a admirá-lo e a se curvar diante de sua beleza.


RAPUNZEL

 

Rapunzel | Jacob e Wilhelm Grimm | 1812

Era uma vez um homem e uma mulher que há muito tempo desejavam inutilmente ter um filho. Finalmente, a mulher pressentiu que sua fé estava prestes a conceder-lhe o desejo.

Na casa deles, havia uma pequena janela na parte dos fundos, pela qual se via um magnífico jardim cheio das mais belas flores e das mais viçosas hortaliças. Em torno deste vasto jardim, erguia-se um muro altíssimo que ninguém se atrevia a escalar, porque tudo pertencia a uma temida e poderosa feiticeira.

Um dia, a mulher debruçou-se na janela e, olhando para o jardim, viu um pequeno canteiro onde era plantado rapunzel, um tipo de alface. As folhas pareciam tão frescas e verdes que abriram seu apetite e ela sentiu um enorme desejo de prová-las. Esse desejo aumentava a cada dia, mas ela sabia que jamais poderia comer daquele rapunzel. Até que começou a definhar e empalidecer. Então, o marido se assustou e perguntou:

— O que tens, esposa querida?

— Ah – ela respondeu —, vou morrer se eu não puder comer um pouco daquele rapunzel do jardim atrás de nossa casa.

O homem, que a amava muito, pensou: Preciso conseguir um pouco daquele rapunzel antes que minha esposa morra, custe o que custar!

Ao cair da noite, o marido subiu no muro, pulou para o jardim da feiticeira, arrancou às pressas um punhado de rapunzel e levou para sua mulher. Ela fez imediatamente uma saborosa salada e comeu ferozmente. Estava tudo tão gostoso, mas tão gostoso, que no dia seguinte seu apetite por ele triplicou. Então, o marido não viu outra forma de acalmar a esposa, senão buscar mais um pouco.

Na escuridão da noite, pulou novamente o muro. Mas assim que pôs os pés no jardim, ele foi terrivelmente surpreendido pela feiticeira que estava em pé bem diante dele.

— Como ousa entrar em meu jardim e roubar meu rapunzel como um ladrãozinho barato? – disse ela com os olhos chispando de raiva. — Há de sofrer por isso!

— Ó, por favor – implorou ele —, tenha misericórdia, fui coagido a fazê-lo. Minha esposa viu seu rapunzel pela janela e sentiu um desejo tão intenso que morreria se não o comesse.

A feiticeira se acalmou e disse-lhe:

— Se o que está dizendo é verdade, permitirei que leve tanto rapunzel quanto queira. Só imporei uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai trazer ao mundo. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe e nada lhe faltará.

O homem, em seu terror, consentiu com tudo. Quando a esposa deu à luz, a feiticeira apareceu pontualmente, levou a criança e deu-lhe o nome de Rapunzel.

Rapunzel cresceu e se tornou a criança mais bonita sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira a levou para a floresta e trancou-a em uma torre que não tinha escadas, nem portas. Apenas bem no alto havia uma pequena janela. Quando a velha desejava entrar, colocava-se embaixo da janela e gritava:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da feiticeira, desenrolava suas tranças e prendia os cabelos em um dos ganchos da janela. Assim, as tranças caíam até o chão e a feiticeira subia por elas.

Depois de um ou dois anos, o filho de um rei estava cavalgando pela floresta e passou pela torre. Quando estava bem próximo, ouviu uma voz encantadora e parou para ouvir a bela melodia. Esta era Rapunzel, que em sua completa solidão passava seus dias cantando. O príncipe queria subir e procurou em volta da torre uma porta, mas nenhuma foi encontrada. Ele montou em seu cavalo e voltou para o castelo.

Sobretudo, o canto tinha tocado tão profundamente seu coração que passou a ir à floresta todos os dias, até a torre, para ouvir a doce voz. Certa vez, ele estava em pé atrás de uma árvore, quando viu a feiticeira e a ouviu clamando:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Então, a moça jogou as tranças e a feiticeira subiu até ela.

Se essa é a escada pela qual se sobe à torre, também tentarei eu subir, pensou ele.

E no dia seguinte, quando começou a escurecer, o príncipe foi para a torre e gritou:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Imediatamente, o cabelo caiu e o filho do rei subiu.

Assim que o viu, Rapunzel ficou terrivelmente assustada, pois nunca tinha visto um homem. Mas o príncipe começou a falar de forma muito gentil e cheio de sutilezas, bem como um amigo. Disse que seu coração ficou transtornado ao ouvi-la e que não teria paz se não a conhecesse. Então, Rapunzel se tranquilizou e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo.

Ele vai me amar mais do que a velha mãe Gothel, pensou Rapunzel. E colocando as mãos na dele, respondeu:

— Eu irei contigo de boa vontade, mas não sei como descer. Traga uma meada de seda cada vez que vier, e com ela vou tecer uma escada. Quando estiver pronta, eu descerei e poderá me levar em seu cavalo.

Combinaram que, até chegada a hora de partir, ele viria todas as noites, porque a velha sempre vinha durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel perguntou:

— Diga-me, mãe Gothel, por que é mais difícil içar a senhora do que o jovem filho do rei? Ele chega até mim em um instante.

— Ah, criança má! – vociferou a feiticeira. — O que eu a ouço dizer? Eu pensei que a tinha separado de todo o mundo e ainda você me traiu!

Em sua ira, agarrou as belas tranças de Rapunzel, envolveu-as em sua mão esquerda, pegou uma tesoura com a direita e, zip, zap, as tranças foram cortadas e caíram no chão. A mãe Gothel era tão impiedosa que levou a pobre Rapunzel para um deserto, onde ela teria de viver em grande sofrimento e miséria.

Porém, no mesmo dia em que expulsou Rapunzel, a feiticeira prendeu as tranças cortadas no gancho da janela. Quando o príncipe veio e chamou:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Ela deixou o cabelo cair. O filho do rei subiu, mas não encontrou sua amada Rapunzel; em seu lugar aguardava a feiticeira com um olhar maléfico e peçonhento.

— Aha! – ela gritou zombeteira. — Veio buscar sua querida esposa? Mas o belo pássaro já não canta no ninho, a gata a pegou e vai riscar os seus olhos também. Rapunzel está perdida para ti, nunca mais irá vê-la.

O príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela da torre. Ele escapou com vida, mas os espinhos em que caiu perfuraram os seus olhos. Então, perambulou cego pela floresta; não comia nada além de frutos e raízes. Tudo o que fazia era lamentar e chorar a perda de sua amada.

Andou por muitos anos sem destino e na miséria. E finalmente chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na penúria, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina que haviam nascido ali.

Ouvindo uma voz que lhe parecia tão familiar, o príncipe seguiu na direção de Rapunzel e, quando se aproximou, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços a chorar. Duas de suas lágrimas caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe pôde enxergar novamente. Então, levou-a para o seu reino, onde foram recebidos com grande alegria e festas. Lá viveram completamente felizes por muitos e muitos anos.

 

4 de mai. de 2024

RAPUNZEL

 


Rapunzel | Jacob e Wilhelm Grimm | 1812

Era uma vez um homem e uma mulher que há muito tempo desejavam inutilmente ter um filho. Finalmente, a mulher pressentiu que sua fé estava prestes a conceder-lhe o desejo.

Na casa deles, havia uma pequena janela na parte dos fundos, pela qual se via um magnífico jardim cheio das mais belas flores e das mais viçosas hortaliças. Em torno deste vasto jardim, erguia-se um muro altíssimo que ninguém se atrevia a escalar, porque tudo pertencia a uma temida e poderosa feiticeira.

Um dia, a mulher debruçou-se na janela e, olhando para o jardim, viu um pequeno canteiro onde era plantado rapunzel, um tipo de alface. As folhas pareciam tão frescas e verdes que abriram seu apetite e ela sentiu um enorme desejo de prová-las. Esse desejo aumentava a cada dia, mas ela sabia que jamais poderia comer daquele rapunzel. Até que começou a definhar e empalidecer. Então, o marido se assustou e perguntou:

— O que tens, esposa querida?

— Ah – ela respondeu —, vou morrer se eu não puder comer um pouco daquele rapunzel do jardim atrás de nossa casa.

O homem, que a amava muito, pensou: Preciso conseguir um pouco daquele rapunzel antes que minha esposa morra, custe o que custar!

Ao cair da noite, o marido subiu no muro, pulou para o jardim da feiticeira, arrancou às pressas um punhado de rapunzel e levou para sua mulher. Ela fez imediatamente uma saborosa salada e comeu ferozmente. Estava tudo tão gostoso, mas tão gostoso, que no dia seguinte seu apetite por ele triplicou. Então, o marido não viu outra forma de acalmar a esposa, senão buscar mais um pouco.

Na escuridão da noite, pulou novamente o muro. Mas assim que pôs os pés no jardim, ele foi terrivelmente surpreendido pela feiticeira que estava em pé bem diante dele.

— Como ousa entrar em meu jardim e roubar meu rapunzel como um ladrãozinho barato? – disse ela com os olhos chispando de raiva. — Há de sofrer por isso!

— Ó, por favor – implorou ele —, tenha misericórdia, fui coagido a fazê-lo. Minha esposa viu seu rapunzel pela janela e sentiu um desejo tão intenso que morreria se não o comesse.

A feiticeira se acalmou e disse-lhe:

— Se o que está dizendo é verdade, permitirei que leve tanto rapunzel quanto queira. Só imporei uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai trazer ao mundo. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe e nada lhe faltará.

O homem, em seu terror, consentiu com tudo. Quando a esposa deu à luz, a feiticeira apareceu pontualmente, levou a criança e deu-lhe o nome de Rapunzel.

Rapunzel cresceu e se tornou a criança mais bonita sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira a levou para a floresta e trancou-a em uma torre que não tinha escadas, nem portas. Apenas bem no alto havia uma pequena janela. Quando a velha desejava entrar, colocava-se embaixo da janela e gritava:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da feiticeira, desenrolava suas tranças e prendia os cabelos em um dos ganchos da janela. Assim, as tranças caíam até o chão e a feiticeira subia por elas.

Depois de um ou dois anos, o filho de um rei estava cavalgando pela floresta e passou pela torre. Quando estava bem próximo, ouviu uma voz encantadora e parou para ouvir a bela melodia. Esta era Rapunzel, que em sua completa solidão passava seus dias cantando. O príncipe queria subir e procurou em volta da torre uma porta, mas nenhuma foi encontrada. Ele montou em seu cavalo e voltou para o castelo.

Sobretudo, o canto tinha tocado tão profundamente seu coração que passou a ir à floresta todos os dias, até a torre, para ouvir a doce voz. Certa vez, ele estava em pé atrás de uma árvore, quando viu a feiticeira e a ouviu clamando:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Então, a moça jogou as tranças e a feiticeira subiu até ela.

Se essa é a escada pela qual se sobe à torre, também tentarei eu subir, pensou ele.

E no dia seguinte, quando começou a escurecer, o príncipe foi para a torre e gritou:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Imediatamente, o cabelo caiu e o filho do rei subiu.

Assim que o viu, Rapunzel ficou terrivelmente assustada, pois nunca tinha visto um homem. Mas o príncipe começou a falar de forma muito gentil e cheio de sutilezas, bem como um amigo. Disse que seu coração ficou transtornado ao ouvi-la e que não teria paz se não a conhecesse. Então, Rapunzel se tranquilizou e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo.

Ele vai me amar mais do que a velha mãe Gothel, pensou Rapunzel. E colocando as mãos na dele, respondeu:

— Eu irei contigo de boa vontade, mas não sei como descer. Traga uma meada de seda cada vez que vier, e com ela vou tecer uma escada. Quando estiver pronta, eu descerei e poderá me levar em seu cavalo.

Combinaram que, até chegada a hora de partir, ele viria todas as noites, porque a velha sempre vinha durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel perguntou:

— Diga-me, mãe Gothel, por que é mais difícil içar a senhora do que o jovem filho do rei? Ele chega até mim em um instante.

— Ah, criança má! – vociferou a feiticeira. — O que eu a ouço dizer? Eu pensei que a tinha separado de todo o mundo e ainda você me traiu!

Em sua ira, agarrou as belas tranças de Rapunzel, envolveu-as em sua mão esquerda, pegou uma tesoura com a direita e, zip, zap, as tranças foram cortadas e caíram no chão. A mãe Gothel era tão impiedosa que levou a pobre Rapunzel para um deserto, onde ela teria de viver em grande sofrimento e miséria.

Porém, no mesmo dia em que expulsou Rapunzel, a feiticeira prendeu as tranças cortadas no gancho da janela. Quando o príncipe veio e chamou:

— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!

Ela deixou o cabelo cair. O filho do rei subiu, mas não encontrou sua amada Rapunzel; em seu lugar aguardava a feiticeira com um olhar maléfico e peçonhento.

— Aha! – ela gritou zombeteira. — Veio buscar sua querida esposa? Mas o belo pássaro já não canta no ninho, a gata a pegou e vai riscar os seus olhos também. Rapunzel está perdida para ti, nunca mais irá vê-la.

O príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela da torre. Ele escapou com vida, mas os espinhos em que caiu perfuraram os seus olhos. Então, perambulou cego pela floresta; não comia nada além de frutos e raízes. Tudo o que fazia era lamentar e chorar a perda de sua amada.

Andou por muitos anos sem destino e na miséria. E finalmente chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na penúria, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina que haviam nascido ali.

Ouvindo uma voz que lhe parecia tão familiar, o príncipe seguiu na direção de Rapunzel e, quando se aproximou, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços a chorar. Duas de suas lágrimas caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe pôde enxergar novamente. Então, levou-a para o seu reino, onde foram recebidos com grande alegria e festas. Lá viveram completamente felizes por muitos e muitos anos.

1 de mai. de 2024

João e o pé de feijão

 João e o pé de feijão


No tempo do Rei Alfredo, muito longe de Londres, vivia uma pobre viúva. João era seu único filho que era muito rebelde e extravagante. Esta história ficaria conhecida depois como João e o pé de feijão.

Aos poucos, ele foi gastando todo o dinheiro que ela possuía. Um dia, pela primeira vez na vida, censurou-o:

– Filho malvado!!! Não tenho mais dinheiro nem sequer para comprar um pedaço de pão. Só o que me resta é a minha pobre e velha vaca.

João tanto amolou a mãe para vender a vaca, que ela acabou consentindo. Quando ele ia levando o animal, encontrou um açougueiro que lhe propôs trocar a vaca por uns grãos mágicos de feijão que ele levava no chapéu. João, julgando ser isso uma grande oferta, aceitou a proposta e voltou para casa. Quando sua mãe viu os feijões por que ele havia trocado a vaca, perdeu a paciência. Apanhou os grãos de feijão, atirou-os para fora da janela, e pôs-se a chorar. João tentou consolá-la, mas não o conseguiu. Como não tinham nada

No dia seguinte, João acordou cedo e viu que alguma coisa estava fazendo sombra na janela de seu quarto. Levantou-se, desceu as escadas e foi ao jardim. Aí verificou que os grãos que sua mãe havia atirado pela janela, tinham germinado e o pé de feijão crescera surpreendentemente. As hastes eram grossas e tinham-se entrelaçado como uma trança. Estavam tão altas, que davam a impressão de alcançarem as nuvens. No quintal havia somente João e o pé de feijão. Ele que gostava de aventuras, resolveu trepar na árvore que se formara, até atingir o alto. Depois de levar algumas horas subindo, chegou a um país estranho. Ali encontrou uma bonita moça, elegantemente vestida, e com um sorriso encantador lhe perguntou como havia chegado até lá e ele lhe contou que subira pelo pé de feijão.
– Você se lembra de seu pai? Perguntou-lhe a moça.

– Não, senhora. Mamãe sempre chora quando falo nele e não me diz nada, respondeu o menino.

– Sou a fada protetora de seu pai, disse-lhe a moça. As fadas estão sujeitas a leis, como os homens, e quando cometem um erro, perdem o seu poder por alguns anos. Eu estava incapaz de ajudar seu pai quando ele mais precisou de mim e por isso ele morreu.

A fada parecia tão triste que João se sentiu comovido e pediu-lhe que continuasse a falar.

– Seu pai era um homem muito bondoso, continuou a fada. Tinha uma boa esposa, empregados fiéis e muito dinheiro. Teve, porém, uma infelicidade: um amigo falso, um gigante que ele havia ajudado muito e que, em retribuição, o matou e roubou tudo o que ele tinha. Também fez sua mãe prometer que nunca lhe contaria nada, sob pena de matá-los também. Eu não pude ajudá-la. Meu poder só reapareceu no dia em que você foi vender sua vaca. Fui eu que fiz você trocar a vaca pelos feijões. Fui eu que fiz o pé de feijão crescer tão depressa e lhe inspirou o desejo de subir por ele. O malvado gigante vive aqui e você deve livrar o mundo deste monstro, que não faz outra coisa senão maldade… Pode apossar-se legalmente de sua casa e de suas riquezas, porque tudo pertencia a seu pai e é seu, mas não deixe sua mãe saber que você está a par desta história.

João perguntou-lhe o que devia fazer:

– Vá seguindo por esta estrada até encontrar uma casa grande, parecida com um castelo. É aí que o gigante vive. Então, aja de acordo com seu próprio modo de pensar. Seja bem sucedido… boa sorte!

A fada desapareceu e João caminhou até o sol se pôr. Com grande alegria, avistou a casa do gigante. Uma mulher de aparência simples estava à porta. Ele pediu-lhe um pedaço de pão e um lugar para dormir. Ela ficou muito surpresa e disse que não era comum aparecer ali um ser humano. Era sabido que seu marido, um gigante poderoso, não gostava de pessoas rodando perto de sua casa e ficava muito bravo… João ficou muito amedrontado, mas teve esperança de que o gigante não fosse tão ruim assim. Insistiu para que a mulher o deixasse passar a noite lá, escondendo-o do gigante. Finalmente, ela concordou. Entraram e ela o levou a um quarto, onde lhe deu de comer e beber. De repente, ouviram uma batida forte na porta, que fez a casa estremecer.

– Esconda-me no forno, pediu João. O forno estava apagado e João entrou nele bem depressa. De lá ouvia o gigante gritar com a mulher e repreendê-la. Depois, sentou-se à mesa. João espiou por uma fenda no fogão e ficou horrorizado ao ver a quantidade de comida que ele ingeria. Tinha-se a impressão de que não ia acabar mais de comer e beber. Quando terminou, virou-se para trás e gritou para a sua mulher, com uma voz de trovão:

– Traga a minha galinha!

Ela obedeceu e colocou sobre a mesa uma bonita galinha.

– Ponha um ovo! ordenou ele.

pedaço de carne e atirou-o ao cão, que parou de latir na hora. O menino aproveitou a ocasião para carregar as sacolas de moedas, colocando-as uma em cada ombro. Eram tão pesadas, que ele levou dois dias para descer pelo pé de feijão. Quando chegou a casa, deu à mãe todo o dinheiro, com o qual ela reformou a vivenda e mobiliou-a de novo. Eles estavam felizes como não eram havia muito tempo.

Durante três anos, João e o pé de feijão procurou não visitar mais o gigante. Um dia, porém, começou a preparar-se para nova viagem. Arranjou um disfarce diferente e melhor do que o usado da última vez. Era verão e em uma manhã bem cedo, sem dizer nada à mãe, subiu pelo pé de feijão, chegando à casa do gigante ao anoitecer. Como de costume, encontrou a mulher em pé, na porta. João estava tão bem disfarçado que ela não o reconheceu. Mas, quando se disse muito pobre e faminhto, encontrou grande dificuldade em ser admitido. Depois de muito insistir, conseguiu que ela o escondesse num caldeirão grande de cobre. Quando o gigante chegou, disse furioso:

– Sinto cheiro de carne fresca!!! Apesar de todas as desculpas que a esposa lhe dava, pôs-se a revistar tudo. João estava horrorizado, desejando mil vezes ver-se em casa, são e salvo. Quando o gigante chegou ao caldeirão e pôs a mão na tampa, João considerou-se morto. Mal ele começara a levantar a tampa, mudou de idéia, deixando-a cair. Foi sentar-se perto da lareira, para devorar a grande ceia. Quando acabou, deu ordens à mulher para trazer-lhe a harpa. João espiou pela tampa do caldeirão e viu a harpa mais original que podia imaginar. o gigante colocou-a sobre a mesa e disse:

– Toque!!! Imediatamente ela começou a tocar uma linda música e João desejou apoderar-se dela, mais do que qualquer outro tesouro do seu inimigo. O gigante não era apreciador de música. A harpa embalou-o, fazendo-o dormir mais cedo do que de costume. Assim que João verificou que estava tudo bem, saiu do caldeirão, pegou a harpa e saiu correndo. Entretanto, a harpa era encantada e, assim que se viu em mãos estranhas, pôs-se a gritar alto:

– Patrão!!! Patrão!!!

O gigante acordou, levantou-se e viu João correndo.

– Oh!!! Você, vilão!!! Foi você quem roubou minha galinha, meu dinheiro e agora vai levando minha harpa!!! Espere aí que eu vou pegá-lo e fazer picadinho de você!!! – ameaçou ele em seu vozeirão de trovão.

– Muito bem, experimente!!! desafiou João. Ele sabia que o gigante havia comido tanto que mal podia ficar de pé, imagine correr atrás dele. Por outro lado, ele era jovem, tinha pernas ágeis e a consciência tranquila, o que muito ajuda o homem a caminhar com facilidade. Assim, num instante, chegou ao pé de feijão e foi descendo o mais depressa que pode. A harpa ia tocando uma suave canção.

Chegando em casa, encontrou sua mãe chorando, muito preocupada. Ele a consolou e pediu-lhe que fosse buscar, depressa, uma machadinha. O gigante já vinha descendo e não havia tempo a perder. As más ações do monstro tinham, porém, chegado ao fim. Assim pensou João e o pé de feijão foi cortado bem na raiz. O gigante caiu de cabeça no jardim e morreu imediatamente.

Nesse momento, apareceu a fada que explicou tudo à mãe de João e eles puderam assim continuar a cuidar da vida e da fazenda, nunca mais faltando dinheiro para comer, e João sentiu-se também muito feliz pois pode finalmente vingar a morte de seu pai.

1 de ago. de 2023


                  João de Barro e Joaninha de Birra

                                                         Lydia B. Castardelli

 

Amo essa história, esse livro é muito fininho, tem poucas páginas a ilustração é uma gracinha. Por ser tão fininho, perco ele de vez e quando, daí tive a ideia de postar a história completa aqui no blog. Procurei na internet pelo título do livro, pelo nome da autora, pela editora e não encontrei de jeito nenhum. Acho que esse é o único exemplar, foi editado em 1992, há 31 anos!

ESSA PRIMEIRA PARTE DA HISTÓRIA É DA MINHA CABEÇA. EU TINHA PERDIDO O LIVRO E ESTAVA CONTANDO COMO EU LEMBRAVA.

João de Barro já era um rapaz em idade de se casar. Então, voou, voou e voou até encontrar uma linda árvore onde construiu uma casa aconchegante. Pronto! Agora só faltava uma noiva. Ficou pensando como seria sua noiva. Havia de ser uma boa moça, simples e de coração bom.

Daí ele procurou uma noiva. Até que um belo dia estava ele cuidando do jardim de sua pequena casa, quando viu voando por ali uma Joaninha que era uma graça.

Colheu uma flor ofereceu à moça que aceitou prontamente. Os dois começaram a conversar. João-de-Barro falou de seu desejo de se casar... Mostrou a casa, simples aconchegante, mas a moça achou que aquela casa era pequena demais. João então se propôs a construir outro andar, onde ficariam os quartos.

Então a moça voltou a casa, olhou... Mas não gostou. Ela queria que a casa tivesse um jardim de inverno. João se pôs a construir o tal jardim de inverno... Mas quando Joaninha-de-Birra veio olhar a casa novamente...............

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O João de barro era um pássaro muito ativo e trabalhador. Era muito querido e admirado por todos.

Ele havia construído sua casinha e estava se sentindo muito só. Começou, então, a pensar em casamento, mas entre as fêmeas de seu bando, não havia nenhuma que lhe despertasse o coração. Até que um dia apareceu a Joaninha-de-Birra.

 

Ela era muito bonita, vaidosa, andava com o pescoço cheio de colares, correntinha na pata, brincos pendurados nas penas dos ouvidos.

João de Barro ficou apaixonado! foi amor a primeira vista.

Joaninha era fútil, cobiçava o luxo e o poder, percebeu que João de Barro poderia satisfazer sua vaidade. Quando ele lhe pediu em casamento, aceitou logo, mas foi impondo condições.

- Eu só me casarei se você me der tudo o que eu quiser.

- Pode pedir o que você deseja. Respondeu prontamente o João de Barro.

- Bem, pra começar, eu quero uma casa bem grande, cheia de portas e janelas.

- Mas meu bem, eu já tenho uma casa! Disse João.

- Que nada, aquilo pra mim não é casa. Quero uma casa que desperte a cobiça de todos os pássaros da floresta, disse Joaninha com seu jeito petulante e atrevido de quem não se contenta com nada.

João ficou triste com aquela exigência, mas resolveu não contrariar sua amada. Procurou a mais bela e frondosa arvore que havia na floresta e começou a construir a casa dos sonhos da Joaninha. Com muito trabalho fez três casinhas geminadas. Em cima dessas construiu mais duas e em cima dessas construiu mais uma. Parecia um palácio, cheio de portas e janelas do jeito que Joaninha queria.

Quando Joaninha viu a casa, achou-a bem grande, mas ainda não estava contente. Ela queria mais.

- Você não gostou? Perguntou João de Barro.

- É... a casa é grande, mas eu quero um acabamento melhor. Esse seu acabamento é muito rústico.

João não sabia o que fazer para agradá-la. Voou até a praia e contou o seu problema ao mar. O mar ficou com pena dele e ordenou aos peixes que fossem ao fundo do mar buscar uma sacola de pérolas e as ofereceu ao João de Barro dizendo:

- Este será o meu presente de casamento. Leve essas pérolas e revista seu palácio com elas. Garanto que sua noiva vai gostar.

João agradeceu e voou feliz da vida. Pegou as pérolas e foi colocando uma a uma, deixando uma pequena distância entre elas revestindo, assim, toda a casa. Quando terminou sua obra, sentiu-se orgulhoso e mandou chamar Joaninha para que visse.

- Está mais ou menos, disse ela.

- Mas o que é que está faltando Joaninha? Perguntou ele.

- Está faltando mais brilho. Quero que a noite todos os pássaros da floresta possam ver nossa casa.

João de Barro ficou decepcionado com aquele temperamento egoísta que cobiçava o luxo e o poder. Joaninha não queria que ninguém fosse melhor que ela.

Joaninha foi embora, deixando João no topo da casa, olhando triste para o céu.

Foi então que o céu lhe perguntou:

- João de Barro por que você está tão triste?

João contou-lhe a causa de sua dor. Havia trabalhado tanto, e tudo fora em vão. Joaninha não estava satisfeita.

O céu compadeceu-se dele e disse-lhe:

- O mar deu-lhe as pérolas de presente de casamento, pois eu vou dar-lhe uma chuva de estrelinhas para dar brilho ao seu palácio.

E uma chuva de estrelinhas caiu do céu e se acomodou entre as pérolas. Se a casa de João já era bonita, agora estava lindíssima.

João-de-Barro estava comovido. Agradeceu ao céu e foi buscar sua noiva para ver sua obra.

Joaninha dessa vez ficou encantada. Agora sim ela seria uma rainha, a rainha da espécie dos Joãos-de-Barro.

Beijou seu noivo, mas ainda não estava do jeito que ela queria.

- Podemos nos casar? Perguntou João.

- Não, João, ainda não. Falta uma coisinha.

- O que é? Perguntou o nosso amigo irritado.

- Só falta revestir as paredes internas. Elas não estão combinando com os detalhes externos. Eu quero que você as revista de ouro.

João quase teve um chilique. Ficou com vontade de desistir do casamento, mas Joaninha tanto insistiu, tanto chorou que acabou convencendo-o.

João voou até o rio e contou-lhe o seu drama, o rio acalmou-o disse-lhe:

- Se o mar lhe deu as pérolas e o céu as estrelas, eu posso dar-lhe o ouro em pó de que precisa. E deu-lhe um balde de ouro em pó que estava em seu leito.

Agradecido, João despediu-se e foi revestir as paredes internas do seu palácio.

Todos os pássaros ficaram de bico aberto diante de tanta beleza, pois agora sua noiva iria ficar satisfeita.

De fato, Joaninha ficou encantada e marcou o casamento para o dia seguinte. Casaram-se e foram morar lá.

Mas o pior aconteceu. O brilho das estrelas iluminavam a casa toda e eles não podiam dormir. Durante o dia, o sol entrava pelas portas e janelas, refletiam no ouro das paredes e eles não podiam abrir os olhos. Passaram três dias no maior sufoco.

Joaninha arrependida pediu a João que tirasse aquele ouro de lá. Assim ele fez, mas com as pancadas que ele tinha que dar nas paredes, as pérolas desprenderam-se e as estrelinhas assustadas, fugiram para o céu. E assim, sem o ouro e sem as estrelas puderam dormir sossegados. Mas durante a noite, desabou um temporal e eles tiveram que fugir. O vento derrubou aquela bela casa de três andares. A água da chuva carregou o ouro e as pérolas para o rio. O rio devolveu as pérolas para o mar.

João-de-Barro e Joaninha-de-Birra foram viver naquela casinha que João havia construído antes de casar.

Assim, cada coisa ficou em seu lugar. As estrelas no céu. O ouro no leito do rio e as pérolas no mar. João e Joaninha foram morar na casa de barro igualzinha às casas que Deus permite a todos Joãos-de-Barro. Joaninha recebeu uma lição de que o orgulho e a cobiça não fazem ninguém feliz.

 

9 de mar. de 2019

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 https://youtu.be/b720KbhQXOg